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Religião para Ateus

 

Livro escrito pelo filósofo e escritor suiço Alain de Botton. Já li alguns livros desse filósofo, mas sem dúvida esse foi o que mais gostei. O livro elenca aspectos positivos das religiões, que normalmente são desprezados pelos ateus. Depois de ler algumas obras do Richard Dawkins, achei que deveria buscar algo mais light e adorei as idéias do Alain, como por exemplo:

 

“Parece óbvio que as origens da ética religiosa jazem na necessidade pragmática das comunidades primevas para controlar as tendências de seus integrantes e estimular hábitos contrários, de harmonia e perdão. Códigos religiosos tiveram início como preceitos admonitórios, que foram então projetados no céu e refletidos de volta à terra sob formas incorpóreas e majestosas. Ordens para ser solidário ou paciente derivaram da consciência de que essas era as qualidades que poderiam trazer as sociedades de volta da fragmentação e da autodestruição. Essas regras eram tão vitais para nossa sobrivivência que por milhares de anos não ousamos admitir que as tínhamos formulado, a fim de evitar que isso as expusesse ao escrutínio crítico e ao tratamento irreverente. Precisávamos fingir que a moralidade vinha do céu para isolá-la de nossas mentiras e fraquezas ”

 

De Botton destaca que a intenção dos criadores das normas religiosas iniciais consistia em buscar valores que trouxessem harmonia para suas comunidades.

 

“Mas, se agora podemos assumir a espiritualização das leis éticas, não temos motivo para jogá-las fora. Continuamos precisando de exortações para sermos solidários e justos, ainda que não acreditemos que exista um Deus que deseje que sejamos assim Não precisamos ser colocados na linha pela ameaça do inferno ou pela promessa do paraío (...). Uma evolução adequada da moralidade desde a superstição até a razão deveria significar o reconhecimento de que somos os autores dos nossos mandamentos morais”.

 

Esse para mim é um argumento poderoso de Alain, a idéia de que as necessidades de valores éticos persiste, mas que esses devem ser promovidos com base em argumentos diferentes dos utilizados pelas religiões primitivas. Nesse sentido, ele propõe uma reforma da moralidade, com base em pressupostos racionais.

 

“A tradição religiosa à qual a tabela de estrelinhas de Giotto pertencia sentia-se conforável fazendo proposições detalhadas sobre como alguém deveria se comportar e distinguindo de seu oposto aquilo que claramente definia como bom. Representantes de vício e virtudes eram onipresentes – nas quartas capas de Bíblias, em livros de orações, nas paredes de igrejas e prédios públicos – e seu propósito era didático: ofereciam uma bússola pela qual os fiéis podiam guiar sua vida em direções honradas”.

 

O autor descreve as formas como a religião cristã difundia seus valores, sobretudo contratando artistas talentosos para decorar palácios e igrejas. Segundo de Botton, as pessoas necessitam ser lembradas constantemente quanto a valores humanitários.

 

“Simplesmente não ligaremos por muito tempo para os valores superiores quando tudo o que recebemos para nos convencer de sua validade é uma ocasional lembrete em um livro de ensaios, de vendagem modesta e amplamente ignorado, escrito por um suposto filósofo – enquanto nos dominós da cidade, os talentos superlativos das agências do globo praticam sua alquimia fantasmagórica e incendeiam todas as nossas fibras sensoriais em nome de um novo tipo de produto de limpeza ou um salgadinho saboroso.”

 

BINGO!!

 

 

Alain chama a atenção para as dificuldades da educação atual e da cultura da vida atual.

 

“Nossa peculiar abordagem da cultura transborda da educação para campos relacionados. De forma similar, há uma abundância de suposições suspeitas na produ ção e na venda de livros. Também aqui somos brindados com muito mais material do que um dia poderemos assimilar e lutamos para nos ater ao que nos é de maior importância.”

 

“Se lamentamos nossa época inundada por livros é porque sentimos que não é pelo maior número de leituras, mas pelo aprofundamento e revigoramento do nosso conhecimento de uns poucos volumes, que melhor desenvolvemos a inteligência e a sensibilidade.”

 

 

“Em seus métodos, o cristianismo tem desde o início sido guiado por uma simples mas essencial observação, que não obstante, jamais causou qualquer impressão naqueles que comandam a educação secular: a facilidade com que esquecemos as coisas.

Seus teólogos sabem que nossa alma sofre daquilo que os antigos filósofos gregos chamaram de akrasia, uma desconsertante tendência a saber o que deveríamos fazer combinada com uma persistente relutância em de fato fazer, seja devido à falta de força de vontade ou à distração”.

 

“Além de precisarem ser transmitidas de forma eloqüente, as idéias também devem ser constantemente repetidas para nós. Três, cinco ou dez vezes por dia, precisamos ser lembrados à força de verdades que amamos mas que, de outro modo, não somos capazes de respeitar”.

 

 

 Enfim, um livro que ressalta as inegáveis contribuições das práticas religiosas para o mundo moderno, que precisam ser analisadas e adaptadas ao contexto atual para que sigamos evoluindo individual e coletivamente.